No ambiente político, o puxa-saco é um personagem recorrente — e extremamente nocivo. Ele se disfarça de aliado, mas na prática é um sabotador silencioso. Alimenta o ego do político, faz-se de prestativo, elogia até os erros mais grotescos e finge lealdade absoluta. No entanto, por trás do sorriso constante, esconde-se alguém que não trabalha de verdade, não contribui tecnicamente e vive da arte do “lero”. É aquele que elogia mesmo diante de fracassos evidentes, desacredita dados que mostram a realidade, contesta números e ignora evidências para manter-se bem posicionado ao lado do poder.

A presença desse tipo de figura de uma equipe de campanha pode ser devastadora. O puxa-saco bloqueia o fluxo de críticas honestas, distorce diagnósticos e impede o crescimento da gestão. Ele não age com base em princípios, mas por conveniência. Quando o ambiente se torna hostil ou os desafios aumentam, seu papel parece até reconfortante — afinal, ele sempre tem um elogio na ponta da língua. Mas essa falsa sensação de apoio cega o gestor, anestesia a liderança e retira a clareza necessária para ajustes estratégicos. O resultado, muitas vezes, é a perda de votos, de credibilidade e até de aliados de verdade.

Mais grave ainda é que o puxa-saco não é fiel ao projeto político nem ao líder. Ele é fiel à oportunidade. Isso o torna duplamente perigoso: primeiro, porque possui o privilegiado a bastidores e informações estratégicas, muitas vezes mais até do que os técnicos de confiança; segundo, porque é justamente esse o que ele usará contra o político assim que surgir uma chance melhor. A traição, nesse cenário, não é hipótese — é só questão de tempo.

Ao longo do tempo, muitos políticos acabam cercados exclusivamente por bajuladores. Criam uma redoma de conforto e ilusão, onde só escutam o que querem ouvir. Esse isolamento os afasta da realidade das ruas, das demandas populares e das críticas construtivas que poderiam melhorar sua atuação. Dentro dessa bolha, a gestão se transforma em propaganda, a vaidade substitui a autocrítica e o declínio se torna inevitável. Nenhum projeto sério sobrevive por muito tempo cercado apenas de elogios.

Durante uma campanha eleitoral, o risco é ainda maior. Em vez de um time técnico que aponta falhas na estratégia, melhora a comunicação e corrige o rumo, o candidato pode acabar cercado por “sim senhor” que dizem que está tudo perfeito. O resultado? Decisões ruins, marketing ineficaz, propostas desconectadas da realidade e uma campanha que perde força dia após dia. Campanha não é lugar para vaidade: é lugar para ouvir a verdade, ajustar o que for preciso e enfrentar o desconforto necessário para crescer.

Por isso, todo político que queira formar uma equipe sólida e comprometida com resultados precisa estabelecer limites claros. É fundamental criar um ambiente de trabalho com funções definidas, metas objetivas e acompanhamento rigoroso de desempenho. Mais importante ainda é cultivar uma cultura onde a crítica é valorizada mais do que o elogio. Um método interessante é o chamado “2 pra 1”: sempre que alguém fizer um elogio ao gestor, deve também apresentar duas críticas construtivas. Isso evita a bajulação vazia e fortalece o espírito crítico da equipe.

Também é essencial restringir o número de pessoas com o ir ao núcleo de campanha. O grupo mais próximo precisa ser pequeno, técnico e confiável. Participações devem ser proporcionais à entrega, não à afinidade pessoal. Quem não se adapta a esse modelo, quem vive de conversa fiada e bajulação, deve ser desligado com a maior rapidez possível. Manter um puxa-saco dentro da equipe é como manter um espião dentro do castelo: sorridente por fora, traiçoeiro por dentro.

A verdade é que todo político já se deparou com um — ou vários — puxa-sacos. E muitos se iludem achando que são aliados fiéis. Mas a política não se vence com elogios vazios. Governa-se com crítica, com técnica e com verdade. Um líder de verdade precisa de gente que aponte os erros, não de quem os esconda com tapinhas nas costas.

José Trabulo Júnior - Publicitário, criador da X Conexões Estratégicas

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