Após uma perícia detalhada no celular de Roberto Zampieri, a Polícia Federal (PF) encontrou novas mensagens que reforçam suspeitas de pagamento de propinas ligadas à negociação de decisões judiciais. Em um diálogo inédito obtido via WhatsApp, datado de 9 de setembro de 2023, Zampieri relata ter levado uma "encomenda" de carro para o chefe de gabinete de um ministro — que ainda não foi identificado. Para os investigadores, trata-se de uma possível entrega de dinheiro vivo.
“Vim conversar com o chefe de gabinete do ministro, tive que vir de carro para trazer uma encomenda dele”, escreveu Zampieri.
Em outra conversa, ele sugere que seriam necessários R$ 20 milhões para resolver um processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Vocês têm que preparar uns 20 milhões pra investir lá em cima, e aí resolve. Caso contrário é perigoso”, afirmou.
De acordo com o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Zampieri sacou R$ 8,2 milhões em espécie entre setembro de 2019 e março de 2022.
Em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF afirma ter descoberto uma rede empresarial sofisticada voltada à lavagem de dinheiro. O esquema, segundo os investigadores, tinha como objetivo ocultar os pagamentos de propina, de forma a impedir a ligação direta entre os corruptores e servidores públicos.
Funcionário de Andreson movimentou milhões
A investigação também aponta para a atuação de João Batista, auxiliar de serviços gerais e funcionário de Andreson — apontado como lobista do esquema. Ele teria movimentado R$ 2,6 milhões em suas contas entre 2019 e 2023, com saques de aproximadamente R$ 800 mil entre 2020 e 2021.
Por esse motivo, João Batista foi alvo de mandado de busca e apreensão na operação da semana ada, mas não foi localizado. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 2,6 milhões em suas contas bancárias.
Procurada, a defesa de Andreson informou que ainda analisa os autos do processo. João Batista não foi encontrado para comentar o caso.
Boletos falsos e uso de doleiro são investigados
A PF também apura outros métodos de lavagem de dinheiro utilizados pela organização. Entre eles, o uso de boletos bancários falsos e a compensação de valores via faturas de cartão de crédito adulteradas. Também há indícios de que Zampieri operava com um doleiro sediado em São Paulo.
Essas transações financeiras estariam ligadas ao pagamento de despesas pessoais de assessores do STJ envolvidos na investigação.
Como revelado pelo UOL, a PF detectou transferências de R$ 4 milhões da empresa de Andreson para uma firma registrada em nome da esposa de Márcio Toledo Pinto, assessor do STJ que atuou nos gabinetes das ministras Isabel Gallotti e Nancy Andrighi. Para os investigadores, o ree é mais um indício do pagamento de propina.
A defesa de Márcio Toledo Pinto não respondeu aos contatos da reportagem. As ministras Gallotti e Andrighi afirmaram, por meio de assessoria, que não comentam condutas de terceiros investigados pelo STF.
O STJ também não se pronunciou. Em nota anterior, o tribunal informou que instaurou procedimentos internos de apuração e encaminhou os indícios à Polícia Federal. Nenhum ministro da corte é investigado no caso.
Ver todos os comentários | 0 |