Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revelou que o escritório do advogado Nelson Wilians movimentou R$ 884 milhões entre outubro de 2023 e julho de 2024 — período que coincide com o auge da farra dos descontos indevidos contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Conforme o documento, desse total, R$ 449 milhões correspondem a créditos em duas contas do escritório, enquanto R$ 435 milhões foram movimentados como débitos. O volume dessas transações chama atenção, especialmente pelo contexto das investigações em andamento, que apuram irregularidades relacionadas a entidades que prestavam serviços a aposentados e pensionistas do INSS.

A banca de Nelson Wilians já aparece em outros relatórios do Coaf por operações financeiras consideradas suspeitas, que somam R$ 4,3 bilhões entre 2019 e 2024. Os relatórios foram encaminhados à Polícia Federal no âmbito da Operação Sem Desconto, deflagrada em abril para combater fraudes contra beneficiários do INSS.
O nome de Wilians surgiu na investigação devido a rees milionários feitos ao empresário Maurício Camisotti, apontado como um dos protagonistas do esquema de descontos indevidos. Apenas em uma dessas transações, o advogado teria feito um pagamento de R$ 15,5 milhões a Camisotti. Apesar da relação financeira, Nelson Wilians não é investigado na operação.
Além dos pagamentos, Wilians também atuou como advogado da Ambec — associação que, segundo as investigações, saiu de apenas três associados em dezembro de 2021 para 569.426 no primeiro trimestre de 2024, período em que a arrecadação mensal ou de R$ 135 para R$ 30 milhões, por meio de descontos em folha de pagamento.
Quem é Nelson Wilians
Dono de um dos maiores escritórios de advocacia do Brasil, Nelson Wilians é figura conhecida nas redes sociais por ostentar um estilo de vida de alto padrão, com registros de mansões, carros de luxo, jatinhos e viagens internacionais. O advogado também já prestou serviços para empresas e associações ligadas a Camisotti e chegou a transferir valores diretamente ao empresário, tanto como pessoa física quanto por meio de sua banca jurídica.
A relação entre os dois também se reflete em negócios envolvendo o plano de saúde dos servidores públicos federais, o Geap. Entre 2016 e 2020, empresas ligadas a Camisotti, como a Prevident, e o escritório de Wilians prestaram serviços ao Geap. No entanto, em 2019, já no governo de Jair Bolsonaro (PL), os contratos foram rescindidos por militares sob a justificativa de prejuízos financeiros. As disputas entre as partes ainda tramitam na Justiça de Brasília.
O que diz Nelson Wilians
Em nota, o advogado negou qualquer envolvimento com fraudes e destacou que o escritório não é alvo de investigação. Segundo ele, todas as movimentações financeiras são legítimas, compatíveis com a estrutura do escritório e “absolutamente desvinculadas de qualquer investigação sobre fraudes ou quaisquer crimes”.
Wilians também afirmou que os pagamentos a Camisotti se referem à compra de um imóvel, formalizada por contrato e registrada, sem qualquer ligação com sua atuação profissional. A nota ainda reforça que o fato de uma operação ser classificada como “suspeita” pelo Coaf não significa, necessariamente, que ela seja ilegal.
“Reafirmamos o nosso compromisso com a legalidade e a ética no exercício da advocacia”, conclui o esclarecimento.
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